sábado, 9 de fevereiro de 2013

Aviso: As crianças também são pessoas.

Parece um ovo de Colombo mas não é. Se dissermos a um pai ou a um professor que as criaturas com quem lidam diariamente são pessoas, farão talvez uma cara de "óbvio, claro que sim". Mas a verdade é que o seu comportamento não reflete essa evidência. As crianças, os jovens (e já agora, os idosos) são tratados diariamente como cidadãos de segunda. Existe uma espécie de elite entre os 30 e os 50 anos que tudo conhece e que, qualquer que tenha sido a sua experiência de vida, se arroga saber melhor o que convém aos novos e velhos.
Sem dúvida que qualquer um de nós pode deter competências que nos levam a tomar melhores decisões sobre este ou aquele assunto. Mas nem sempre isso tem a ver com a idade. Ou se calhar raramente tem.
Desde que nascemos que começamos a aprender e a desaprender. A fazer as ligações no nosso cérebro que nos são úteis, e a desfazer as que não usamos. O resultado dessa rede de ligações faz de nós, a cada momento, uma pessoa mais competente que outras, sejam quais forem as idades em questão.
Depois de no século passado termos assistido às lutas contra o racismo, o sexismo, a homofobia, talvez o séc. XXI comece a olhar de outra forma para o idadismo (ou ageism, segundo Robert Neil Butler). Este conceito, que descreve principalmente as discriminações que sofrem os cidadãos de um dos extremos da linha da vida, pode perfeitamente aplicar-se aos do outro extremo: as crianças e jovens.
Se pensarmos bem, todos conseguimos lembrar-nos de momentos em que discriminámos, diminuímos ou até  ofendemos deliberadamente pessoas mais novas. As salas de aulas estão cheias de comentários ofensivos: "Vocês não sabem nada"; "Nem interpretar um texto conseguem"; "Mas isto é uma turma do secundário ou do 1º ciclo?". 
E aquilo que a maior parte de nós não compreende, é que comportamento gera comportamento. Que o "mau comportamento" dos alunos pode ser uma resposta ao "mau comportamento" dos professores. É uma questão de respeito, dizem muitos. Mas a verdade é que a maior parte das vezes não há respeito pelos alunos enquanto pessoas. Foi assim que nos ensinaram, foi assim que crescemos, e temos uma tendência natural para imitar o que nos foi dado. É uma guerra em que já não se sabe quem disparou o primeiro tiro.
O exercício que costumo fazer é imaginar que todos os meus alunos são adultos e interrogar-me se usaria aquelas palavras e aquele tom com um adulto. E muitas vezes tenho de emendar a mão a meio da frase. A reação a um tratamento respeitoso nem sempre é o mesmo respeito, porque também eles já estão entretanto formatados para reagir com agressividade a qualquer figura de poder. Demora tempo, às vezes um ano letivo inteiro, e a alguns nunca se chega. Mas a coerência e persistência acabam por dar os seus frutos.

A propósito disto, oiçam alguns destes argumentos,  diretamente da boca de uma criança:

2 comentários:

Unknown disse...

O video está espectacular.. Podemos aprender tanto com as crianças, é preciso é ouvi-las e dar-lhes o valor que merecem. Não são só elas que aprendem connosco, nós também aprendemos com elas, é recíproco.

Jorge Cirne disse...

A miúda (ou "adulta") da TED Talk é fabulosa!
:-)

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