É surpreendente perceber que em muitas áreas do conhecimento humano (quase todas) andamos afinal a aprender, ensinar e propagar ideias que se sabe hoje estarem completamente deslocadas da realidade. Acontece na História (ainda falamos da Escola de Sagres), na Física, nas Ciências Naturais, mas acontece também nas noções que temos de educação e de inteligência.
Os testes de Q.I., tão popularizados entre nós pelas revistas de passatempos dos anos 80, foram inventados em 1905. E nem sequer o seu inventor, Alfred Binet, achava que serviam para medir alguma coisa. Destinavam-se apenas a identificar crianças com "falta de inteligência", para que pudessem ter uma educação diferente.
Quando pensamos em inteligência, pensamos numa linha, numa escala graduada que cresce do pouco para o muito. E o sítio onde nos colocamos nessa escala está associado aos resultados que obtemos nos testes da escola. Certo?
Nem por isso. Já Binet dizia que a escala por si criada "não permite medir a inteligência, porque as qualidades intelectuais não se justapõem, e por isso não podem ser medidas da mesma forma que uma superfície linear". O que vários estudos mostraram nos últimos anos é que a inteligência tem várias dimensões. Ken Robinson diz que é algo diverso, interativo e distinto de umas pessoas para outras. Howard Gardner considera que existem na verdade 8 tipos de inteligência:
- lógica / matemática
- espacial / visual
- linguística
- corporal / cinestésica
- musical
- interpessoal
- intrapessoal
- naturalista
Gardner anda a dizer isto há 30 anos. E nas últimas três décadas fizeram-se várias experiências com base na Teoria das Inteligências Múltiplas que nos levam a crer que esta faz muito mais sentido do que a dualidade "esperto ou burro" com que todos fomos carimbados algures ao longo da vida.
Algumas escolas adotaram esta visão e têm tido resultados surpreendentes. Aqui fica apenas um exemplo:
Se todos tivéssemos o mesmo tipo de mente e houvesse apenas um tipo de inteligência, poderíamos ensinar a mesma coisa, da mesma forma, a toda a gente e testá-los da mesma maneira. Seria justo. Mas as pessoas têm tipos de mente muito diferentes, competências diferentes. Há pessoas que pensam bem espacialmente, outras que dominam a linguagem, outras são muito lógicas, outras precisam de experimentar ativamente, tocar nas coisas. Assim que percebemos isso, chegamos à conclusão de que uma educação que trata toda a gente da mesma forma é na verdade a mais injusta.Howard Gardner
"Para ser uma seleção justa, toda a gente tem de fazer o mesmo exame.
Por favor subam àquela árvore."
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