Uma das atividades que procuro desenvolver com os alunos nas sessões de apoio pedagógico é aquilo a que chamo "dissecar os livros". Os manuais escolares são coisas caras, que os pais compram muitas vezes com esforço e que, para além de muitas figuras coloridas, se supõe que contenham informação. Coisas importantes, que os alunos têm de saber para se tornarem adultos informados.
A maior parte dos assuntos que vêm nos livros são fascinantes. Mas a maneira como estão explicados transforma- -os numa tortura.

Mas importa não esquecer que quando há inundações, "as águas transbordam os seus leitos e espalham-se pelas populações circunvizinhas". Peço desculpa porque não tenho aqui o livro e provavelmente não me expressei do modo mais científico, mas o que me ficou na memória foi a palavra "circunvizinha". A sério? Não havia lá nada um pouco mais simples?
Aqui está uma palavra que eu nunca tinha usado na vida. E até agora estava convencida de que sabia o que era uma inundação. Tal como estava aquela aluna, antes de alguém lhe pôr o livro à frente.
Em vez de se concentrarem nos conceitos, em compreendê-los e em tentarem explicá-los por palavras próprias, os alunos passam horas a tentar decorar estas frases absurdas (acreditem, isto é apenas um pequeno exemplo).
Em vez de se concentrarem nos conceitos, em compreendê-los e em tentarem explicá-los por palavras próprias, os alunos passam horas a tentar decorar estas frases absurdas (acreditem, isto é apenas um pequeno exemplo).
A propósito disto, lembrei-me de uma TEDTalk em que um professor de Ciências se queixa exatamente do mesmo. Tyler DeWitt afirma o que muita gente já diz: que a aprendizagem precisa de um fator emocional, de uma relação com o conteúdo. Que para haver essa ligação emocional, é necessário que os alunos compreendam o que lhes estão a dizer. E que, se possível for (se ninguém se ofender com isso), é necessário que os conteúdos sejam apresentados de uma forma interessante e divertida. Por exemplo, contando uma história, da qual eles se possam lembrar melhor do que da palavra "circunvizinha".
DeWitt queixa-se de uma obsessão pela exatidão, de uma busca pela seriedade e perfeição cujo único resultado tem sido transformar o discurso científico em algo incompreensível. Ou seja: para evitar que os alunos aprendam factos que não são 100% corretos, estamos a fazer com que não aprendam praticamente nada. O que é que preferimos?
0 comentários:
Postar um comentário